
Entre as acusações que mo são imputadas , de quando em quando e cada vaz mais, aparece a minha incorrigível nostalgia. Sou obrigado a confessar. Sou um homem do século XX, desconfortável e mal-cuidadamente instalado aqui em 2007. Dia desses , fumando um charuto ao lado de um cara que me garantia ter nascido em Boston, crescido em Tegucigalpa e puteado em 15 países de todos os continentes e com o Zé, me pus a pensar no primeiro andar do Shopping Mueller. Não o primeiro andar, mais o sub-solo
Talvez tenha sido o charuto o deflagrador deste movimento proustiano e fatal, pois constava do cardápio da Lima Hobbies, a mais sólida casa comercial que ocupava aquele espaço.
Um espaço irrepetivel, pois era ele e nós eramos nós.
Deixe -me tentar, muito rapidamente, explicar no que consistia o local ( onde hoje estão instaladas as Lojas Americanas) .
Logo a direita de quem descia a escada havia um salão de barbeiro. Meu pai o frequentava e foi onde eu dei o primeiro corte no telhado. A nota curiosa disso tudo é que existe uma terrível maldição que persegue os barbeiros do meu pai. Todos morrem tragicamente, como os atores do filme Poltergeist.
Logo ao lado, havia o Shopping Mágicas. Uma inenarrável loja de truques, mágicas e sacanagens. Quem não se lembra do livro pornô que dava choques, o gelo com a mosca dentro, o caixão que revelava a ereção do padre? E haviam os truques que intrigavam a nossa inocencia até o limite do insuportável. Só os bravos que dispunham de dinheiro para este luxo tinham direito a adentrar o cortinado onde se revelavam os segredos mais importantes do universo. Para não falar do fio quíimico e do sangue do diabo, clássicos absolutos dos recreios nos anos 80.
Uma loja de instrumentos musicais, que também era uma escola ( como era mesmo o nome ?) Quantas casas não tem um orgão esquececido na sala de estar? Que estranho fascinio o orgão elétrico despertou naqueles tempos?
Os duas grandes vedetes , porém, ficavam lado a lado bem no centro do galpão. A oficina do cachorro-quente e a já citada Lima Hobbies.
Não preciso explicar que eram tempos imemoriais e não existiam nem as grandes redes de fast-food nem estes barracos de cachorro prensadão em cada esquina. Mas existia o a Oficina do Cachorro-Quente. O especial da casa consistia numa salsicha de 23 cm, colocada num pão já cortado e meio sem gosto (como convém à iguaria) envolto num receptaculo de papelão dobrado. Pagando a quantia exigida ( nunca tive dinheiro para comer um e ainda tomar um refrigerante) voce ficava de posse do cachorrão e podia incrementa-lo com deliciosos biriris e molhos que ficavam expostos sobre barris de madeira. Ervilha, molho de mostarda servido com colher, nem lembro mais, uma porrada de coisas. Ó aurora da minah vida.
E A Lima Hobbies? A tradicional loja bancava uma grande pista de autorama .Vendia e fazia assistencia técnica dos mais variados carrinhos. Existia toda uma cena- um circo - do autorama, com grandes pilotos, máquinas envenenadas e renhidas rivalidades. Determinadas por uma clara separação de castas. Tinha a categoria dos pobres-diabos como eu que simplesmente levavam seu carrinho Estrela - acostumado com o circuito oval de um metro e meio- para a grande aventura daquela pista fatal. Havia uma categoria um pouco mais elaborada- meu irmão era desta-com motores mais potentes ( Mabushis) , carenagens coloridas de acetato e aceleradores com resistencia dupla. E havia a elite, gente que antecipou a abertura promovida mais tarde peloo presidente Collor , com seus inacreditavéis Mura 20 importados.
Para completar o cenário, ocupando toda a banda esquerda, se quedava um psicodélico parque de diversões. Fico a imaginar o tamanho real daquele negócio. havia uma espécie de uma montanha russaaquatica queé dificil de explicar para as novas gerações. Vocês sabem do que eu estou falando. E nos fliperamas Ninja Gaiden e Street Figther. E depois de tudo isso, antes de voltar ao lar- sorvete italiano.
Durante um tempo, que não durou muito, foi o melhor lugar da cidade.
4 comentários:
De gala o blog.
Adquira seu Órgão Eletrônico Minami e aprenda a tocar em 2 meses. Todos sonhavam em ser algo de Jean Michel Jarre a Andreas Wollenweider.
lembro ainda que atrás da escada tinha uma porta, alguém entrou por ali, pois eu entrei, e vi, senhoras e senhores... ele, o papai noel de calça de moleton chegando pro trampo fumando um Praguento HOLLYWOOD VERMELHO. tinha uma salinha ali onde prendiam quem robava doces nas lojas americanas, começei cedo no crime, ali foi minha primeira caida. me deram uma chumegada e uns tapas na oreia, e eu que tinha apenas 10 anos, sem papai noel e sem os doces´.. por aquela porta ficou um bocado da minha inocência.
O ladi feminino da nostalgia cabe a loja da Halmark, que tinha ao lado direito da escada a vitrine mais cheia de bichos de pelúcia da era, tinha papéis de carta, adesivos holográficos, relógios, chaveiros, calculadoras e toda sorte de quinquilharias existentes no universo das meninas. Para divertir, no famoso parque de diversões, ainda tinha a piscina de bolinhas . Bom lembrar disso!
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