Andando pela Lapa certas noites daquelas bem quentes. O calor e umas cervejas na cabeça e súbito forma-se a circunstancia apropriada para sonhar acordado. Como dizia o capitão do mato, e poeta, eu “ também dei de sonhar um sonho lindo de morrer...”
E a cena me ocorre num delírio, uma chuva de verão. Sou eu, mais velho e mais gasto. Mais gordo ainda e mais tranqüilo. O clima é de festa na casa. Fumaça. Casa que não sai fumaça ninguém acha graça, me faça o favor. Costela no celofane. Eu não sou de fazer isso e a cerveja vai rolando leve. “Sinfonia de pardais”. Aquela coisa toda. Muitas crianças correndo. Uma delas me chama, de um jeito estranho:
_ Hei Vô...
Devo ser eu mesmo o tal Vô. E pensando bem, eu pareço mesmo com um avô. O garoto até que é bonitinho, todo de rubro-negro:
_ fale aí piá...
_ Você já teve pai? Ele pergunta.
Antes de eu conseguir explicar que aquele velhinho, sentado na varanda com o agasalho do atlético, xingando todo mundo é o meu pai a coisa toda se mexe. E num instante, o garoto sou eu, sentado no capet marrom. Com a minha bolinha de cordinha eu estufava as redes dos estádios brasileiros mesmo sendo o Detti, “o cara que joga mais atrás”. Às vezes eu era o Rafael com a minha camisa preta e amarela.
_ Mãe coloca o distintivo do Atlético na minha camisa?
_ Coloco sim filho. Tire ela que eu costuro...
_ Mas, eu não quero tirar ela Mãe
Ocorre que agora, já estou sentado no muro. Comendo a paçoca com a minha irmã. Na Rua Bom Jesus. Minha irmã era muito bonita e eu, tinha a bochecha rosa. Nosso pai era o ultimo pai a chegar. Chegava num Fiat cinza. Aquele tempo da paçoca, enquanto a gente esperava, me ensinou uma lição valiosa. Quem chega na hora é o pobre diabo. O homem que se preza chega depois.
Não posso ser injusto. Meu pai não me ensinou a chegar tarde. Se tiver algo que ele me ensinou foi isso. Chegar na hora. E mais – estar sempre presente.
O orgulho total, o melhor dos sentimentos é aquele que percorre o homem que nunca faltou com ninguém. Que nunca fez ninguém sofrer. Já fui assim. Depois do primeiro deslize a vida do homem muda. A mais cruel das desconfianças o persegue; passa-se a desconfiar de si mesmo. O meu pai não. Foi o único sujeito que eu conheço que manteve intacto este orgulho. Eu deveria explicar isto pro meu neto, no fundo do quintal.
Aquele senhor, se mexendo devagar, vestido com o agasalho do Atlético antes de ser meu pai também foi um menino. E comeu banana sozinho no pátio do colégio interno. Torcia pro maior Botafogo de todos os tempos. Com sua estrela solitária brilhante era o xerife da cidade e teve que dormir sozinho no meio da estrada naquele caminhão de banha.
Tenho que explicar que todos os que estão por ali, são de uma maneira, filhos dele. Que ele teve que correr o mundo para educar e alimentar aquela gente toda até se transformar no melhor amigo de cada um.
A educação baseada na moral, sem concessões, ainda que festiva.
Ele sempre foi o amigo de jogar sinuca, tomar chope e mijar junto. Amigo que pintou com sangue o branco do peito, encarnando de vida o Rubro negro. Que nos guiou a todos ( e todos de rubro-negro) para as coisas maiores que a vida e a morte.
Como explicar ao meu filho (espelho do espelho que sou eu) a costela do caça, os xeremengueis, o “ Bacacha’ as aulas de direção no Boqueirão? A ciência , a antropologia da Baixada em todos os seus níveis? Como passar isso pra frente? Qual nossa maior herança?
A resposta é simples por que é tão grande. Ser cada vez mais parecido com ele Se ele foi Didi que meu filho seja o Alex. Ensinar o meu filho a ser o que é e a ensinar o seu a ser o que sempre fomos.
Assim sonhando com meu pai, eu sonho acordado com o filho que eu quero ter...
E a cena me ocorre num delírio, uma chuva de verão. Sou eu, mais velho e mais gasto. Mais gordo ainda e mais tranqüilo. O clima é de festa na casa. Fumaça. Casa que não sai fumaça ninguém acha graça, me faça o favor. Costela no celofane. Eu não sou de fazer isso e a cerveja vai rolando leve. “Sinfonia de pardais”. Aquela coisa toda. Muitas crianças correndo. Uma delas me chama, de um jeito estranho:
_ Hei Vô...
Devo ser eu mesmo o tal Vô. E pensando bem, eu pareço mesmo com um avô. O garoto até que é bonitinho, todo de rubro-negro:
_ fale aí piá...
_ Você já teve pai? Ele pergunta.
Antes de eu conseguir explicar que aquele velhinho, sentado na varanda com o agasalho do atlético, xingando todo mundo é o meu pai a coisa toda se mexe. E num instante, o garoto sou eu, sentado no capet marrom. Com a minha bolinha de cordinha eu estufava as redes dos estádios brasileiros mesmo sendo o Detti, “o cara que joga mais atrás”. Às vezes eu era o Rafael com a minha camisa preta e amarela.
_ Mãe coloca o distintivo do Atlético na minha camisa?
_ Coloco sim filho. Tire ela que eu costuro...
_ Mas, eu não quero tirar ela Mãe
Ocorre que agora, já estou sentado no muro. Comendo a paçoca com a minha irmã. Na Rua Bom Jesus. Minha irmã era muito bonita e eu, tinha a bochecha rosa. Nosso pai era o ultimo pai a chegar. Chegava num Fiat cinza. Aquele tempo da paçoca, enquanto a gente esperava, me ensinou uma lição valiosa. Quem chega na hora é o pobre diabo. O homem que se preza chega depois.
Não posso ser injusto. Meu pai não me ensinou a chegar tarde. Se tiver algo que ele me ensinou foi isso. Chegar na hora. E mais – estar sempre presente.
O orgulho total, o melhor dos sentimentos é aquele que percorre o homem que nunca faltou com ninguém. Que nunca fez ninguém sofrer. Já fui assim. Depois do primeiro deslize a vida do homem muda. A mais cruel das desconfianças o persegue; passa-se a desconfiar de si mesmo. O meu pai não. Foi o único sujeito que eu conheço que manteve intacto este orgulho. Eu deveria explicar isto pro meu neto, no fundo do quintal.
Aquele senhor, se mexendo devagar, vestido com o agasalho do Atlético antes de ser meu pai também foi um menino. E comeu banana sozinho no pátio do colégio interno. Torcia pro maior Botafogo de todos os tempos. Com sua estrela solitária brilhante era o xerife da cidade e teve que dormir sozinho no meio da estrada naquele caminhão de banha.
Tenho que explicar que todos os que estão por ali, são de uma maneira, filhos dele. Que ele teve que correr o mundo para educar e alimentar aquela gente toda até se transformar no melhor amigo de cada um.
A educação baseada na moral, sem concessões, ainda que festiva.
Ele sempre foi o amigo de jogar sinuca, tomar chope e mijar junto. Amigo que pintou com sangue o branco do peito, encarnando de vida o Rubro negro. Que nos guiou a todos ( e todos de rubro-negro) para as coisas maiores que a vida e a morte.
Como explicar ao meu filho (espelho do espelho que sou eu) a costela do caça, os xeremengueis, o “ Bacacha’ as aulas de direção no Boqueirão? A ciência , a antropologia da Baixada em todos os seus níveis? Como passar isso pra frente? Qual nossa maior herança?
A resposta é simples por que é tão grande. Ser cada vez mais parecido com ele Se ele foi Didi que meu filho seja o Alex. Ensinar o meu filho a ser o que é e a ensinar o seu a ser o que sempre fomos.
Assim sonhando com meu pai, eu sonho acordado com o filho que eu quero ter...
Um comentário:
Você não é exatamente um cara que eu gostaria que casasse com minhas filhas. Mas certamente é algo muito parecido com o filho que eu gostaria de ter. Grande Guti.
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