Parece que foi ontem. Faziamos renhidas duplinhas de pênalti no portão da minha casa. Atletiba, sempre acabava em encrenca:
_ “Eu sou o Tostão" . Os adversários eram fortes. _ " Eu sou o Chicão”. Mas eu não me entregava. Eu era o Odemilson. O homem de 150 mil dolares. as vezes me faltava o parceiro.
e era melhor partir para um um jogo olímpico, sem rivalidade:
_ "Vamo fazer um cruzamentinho – quem faz gol vai no gol. Quem ta no gol vai cruzar...”
A casa da esquina era do seu Alexandre, que lá morava ,com sua patroa. A bola, `as vezes, caia por ali. Ele tinha a pele amarelada e tinha sido goleiro do Atlético. A casa era amarelada e até a cadela – a Laika - era amarela, cor de vômito. Tinham a idade de meus avós. Porém o Gordo, que sabia das coisas, jurava que eles ainda “ faziam”. Ele tinha visto uma vez pela janela da cozinha.
A casa da frente era do “véio" Mauro que tinha “nascido na Rússia”, o que quer que isso significasse.
Seu Vladimir, o avô do Otto fechava (com a Laika e o "véio" Mauro) a trinca comunista da 21 de Abril. Morava na casa da frente.
A casa do lado era abandonada e mal-assombrada.
Na minha casa em tardes de chuva a mãe fazia bolinhos da graxa, com pedaços de banana para o meu irmão. Com açúcar e canela para mim.
Ah, as mamonas e as uvas japonesas em flor para as guerrinhas no terreno baldio com cheiro de erva doce.
Naqueles tempos não se ouvia dizer que o cerol matava, que a manteiga matava, essas coisas. Era o tempo em que ninguém tinha morrido ou já tinha morrido antes de eu nascer. Ou eram do tempo em que eu não tinha nascido. E tem aqueles, é claro, que nunca vão nascer ...
Eu me lembro como se fosse ontem. O Max pedindo autografo para o bêbado, pensando que fosse o Adílio. A eterna discussão no murinho: _ qual a maior torcida?
Argumentava-se, de parte a parte:
“ a pesquisa do placar ?”, “ tem o torneio do povo... ”, “meu pai falou que...” “metade era tudo torcida do flamengo !!”, “ah, então ta bom... e me digam, na boa, que porra é esta de fita azul??”e dá-lhe encrenca, nos atletibas preliminares de domingo de manhã
Íamos pedir a benção para o padre com sotaque americano. Era o tempo das primeiras barraquinhas de cachorro–quente, do sorvete italiano e do Hamburgão. Tempo de levar os cascos na sacola de feira:
_ Pega seis extras e um free longo, e pode pegar um chicabon pra você. Põe na conta com seu Ramiro que depois o pai paga....
E a gente passava na frente de lugares incríveis e perigosos, o bambuzal de trás do Couto com seu rio coalhado de girinos, a casa da egípcia, a casa do careca que dizia que era ufólogo (e que conseguiu mostrar o “objeto não identificado” para alguns dos garotos com o espírito fraco). Na frente da casa do menino negro exercitávamos nossa maldade inocente:
_ Bombril, puta que o pariu, Bombril puta que o pariu...
Sempre alguém aparecia com uma idéia brilhante: _ Vamos fazer uma bomba de merda? Vamos roubar parafina na capela do cemitério? Um 31 ? “Quem não se escondeu morreu o culpado não fui eu ... “
_ “Eu sou o Tostão" . Os adversários eram fortes. _ " Eu sou o Chicão”. Mas eu não me entregava. Eu era o Odemilson. O homem de 150 mil dolares. as vezes me faltava o parceiro.
e era melhor partir para um um jogo olímpico, sem rivalidade:
_ "Vamo fazer um cruzamentinho – quem faz gol vai no gol. Quem ta no gol vai cruzar...”
A casa da esquina era do seu Alexandre, que lá morava ,com sua patroa. A bola, `as vezes, caia por ali. Ele tinha a pele amarelada e tinha sido goleiro do Atlético. A casa era amarelada e até a cadela – a Laika - era amarela, cor de vômito. Tinham a idade de meus avós. Porém o Gordo, que sabia das coisas, jurava que eles ainda “ faziam”. Ele tinha visto uma vez pela janela da cozinha.
A casa da frente era do “véio" Mauro que tinha “nascido na Rússia”, o que quer que isso significasse.
Seu Vladimir, o avô do Otto fechava (com a Laika e o "véio" Mauro) a trinca comunista da 21 de Abril. Morava na casa da frente.
A casa do lado era abandonada e mal-assombrada.
Na minha casa em tardes de chuva a mãe fazia bolinhos da graxa, com pedaços de banana para o meu irmão. Com açúcar e canela para mim.
Ah, as mamonas e as uvas japonesas em flor para as guerrinhas no terreno baldio com cheiro de erva doce.
Naqueles tempos não se ouvia dizer que o cerol matava, que a manteiga matava, essas coisas. Era o tempo em que ninguém tinha morrido ou já tinha morrido antes de eu nascer. Ou eram do tempo em que eu não tinha nascido. E tem aqueles, é claro, que nunca vão nascer ...
Eu me lembro como se fosse ontem. O Max pedindo autografo para o bêbado, pensando que fosse o Adílio. A eterna discussão no murinho: _ qual a maior torcida?
Argumentava-se, de parte a parte:
“ a pesquisa do placar ?”, “ tem o torneio do povo... ”, “meu pai falou que...” “metade era tudo torcida do flamengo !!”, “ah, então ta bom... e me digam, na boa, que porra é esta de fita azul??”e dá-lhe encrenca, nos atletibas preliminares de domingo de manhã
Íamos pedir a benção para o padre com sotaque americano. Era o tempo das primeiras barraquinhas de cachorro–quente, do sorvete italiano e do Hamburgão. Tempo de levar os cascos na sacola de feira:
_ Pega seis extras e um free longo, e pode pegar um chicabon pra você. Põe na conta com seu Ramiro que depois o pai paga....
E a gente passava na frente de lugares incríveis e perigosos, o bambuzal de trás do Couto com seu rio coalhado de girinos, a casa da egípcia, a casa do careca que dizia que era ufólogo (e que conseguiu mostrar o “objeto não identificado” para alguns dos garotos com o espírito fraco). Na frente da casa do menino negro exercitávamos nossa maldade inocente:
_ Bombril, puta que o pariu, Bombril puta que o pariu...
Sempre alguém aparecia com uma idéia brilhante: _ Vamos fazer uma bomba de merda? Vamos roubar parafina na capela do cemitério? Um 31 ? “Quem não se escondeu morreu o culpado não fui eu ... “
E os balões caindo, caindo aqui na nossa mão:
_ Turma da Nuvem sozinha na boca !!!
Até o tempo em que grilamos o maior terreno baldio do bairro (da cidade talvez). Mauá com a Floriano (o pianista e não o marechal). E lá treinávamos e mandávamos nossos jogos contra temidos e poderosos rivais.
O campinho foi cortado a foice pelo Oliveira - que era o factotum da área.. Corte trapezoidal, ralo no meio e mais cheiinho nas pontas. cobrou-nos o equivalente ao preço de duas Kaiser. Tudo definido ali, na porta da distribuidora onde tomamos nossos primeiros keep-coolers. No caquizeiro atrás do gol de entrada eu vi pela vez primeira o botão de rosa. Como esquecer o calcãozinho folgado, a perna queimada do sol até a barra e os pelinhos curtos, doirados da oxigenada . Lá dentro, um pedaço dela - aquela morena também “ fazia” segundo o Gordo. O Gordo sabia das coisas.
Até o tempo em que grilamos o maior terreno baldio do bairro (da cidade talvez). Mauá com a Floriano (o pianista e não o marechal). E lá treinávamos e mandávamos nossos jogos contra temidos e poderosos rivais.
O campinho foi cortado a foice pelo Oliveira - que era o factotum da área.. Corte trapezoidal, ralo no meio e mais cheiinho nas pontas. cobrou-nos o equivalente ao preço de duas Kaiser. Tudo definido ali, na porta da distribuidora onde tomamos nossos primeiros keep-coolers. No caquizeiro atrás do gol de entrada eu vi pela vez primeira o botão de rosa. Como esquecer o calcãozinho folgado, a perna queimada do sol até a barra e os pelinhos curtos, doirados da oxigenada . Lá dentro, um pedaço dela - aquela morena também “ fazia” segundo o Gordo. O Gordo sabia das coisas.
Hoje em dia, parece que o campinho é uma escola pra crianças.
Sei não. Naquele tempo é que era.
E parece que foi ontem...
E parece que foi ontem...
2 comentários:
Eita Polaco, o néctar da vida, bem dito seja, o verdadeiro mundo pertence aos pequenos.
Bons tempos aqueles polaco, e nao esqueca que os gordos eh que sabem das coisas, hehe
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