sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Rodrigumbabaraúma


Na esquina da Rua Joaquim Silva com a escadaria do Convento de Santa Tereza, um dos endereços mais nobres da Lapa e por consequencia do país, existem frente a frente, cada qual em seu lado da rua, um hotel para cavalheiros e um bar. O hotel leva o nome do logradouro( ah, se esta rua pudesse falar...) e o bar tem o nome de seu simpático proprietário - o Gatão. Ele foi um famoso garçom na zona sul que busca agora a aposentadoria tranquila gerenciando com muito talento o próprio boteco na nova Lapa.

A marca daquelas ruas - e desta em especial e , principalmente ,a esquina - é a eclética e improvavel mistura de pessoas, santos, temperanças , classes e tudo mais que couber na cumbuca. Ali moraram Manuel Bandeira, Di Cavalcanti, aquele pintor japones cujo nome se me escapa, a Carmen Miranda e muitos outros. Por outro lado a fina flor dos cafagestes, rufiões, desocupados, gigolos, travestis se esparrama por ali desde sempre. Além da invasão permanente de todos os bicho-grilos do mundo. É quase um vestibular de malandragem ficar mosqueando (flanando) ali naquela esquina.

Durante muito tempo , em épocas diferentes ,eu me acostei no segundo andar do hotel J. Silva, por sorte sempre no quarto com sacada e ventilador do teto - o mais presidencial da casa, uma verdadeira suíte pois conta até com uma pia interna. A copa e a cozinha eram o bar do Gatão, que tem um cardápio espetacular atendendo a qualquer tipo de necessidade e orçamento. Melhor do que a sopa verde, o File de Peixe completo e a cerveja mais gelada( depois do Bar da Maria) era a possibilidade de sentar numa das mesas - debaixo do ventilador de turbina - e ouvir os um grupo de senhores em sua reunião diária. Todos moradores antigos da area, todos negros e sábios, verdadeiras entidades e todos muito religiosos, inteligentes e afiados em todas as sutilezas da diversidade das culturas africanas de seus ancestrais.

Eu ouvia maravilhado as estórias da "pequena" África, as influências das religiões, cultura e lingua - principalmente o bantu na formação do Brasil. Destas conversas que eu ouvia dissimulando o interesse , com meu faro de reporter , sobraram algumas anotações em um caderno - que veio a tona nesta madrugada de semana de Atletiba . Acreditando na data epigrafada já se vão 3 anos das conversas.

A filosofia bantu, a mais instintiva de certas tribos africanas, foi para mim uma revelação. Eu já pensava e acreditava nela - sem nunca ter sido apresentado formalmente.

O senhor mais elegante , e também mais respeitado do grupo, vestido com uma sobria tunica, explicou alguns dos pontos principais . Vou tentar resumir na minha miserável e pretensiosa ignorância.

estes velos conhecidos nossos que são os seres humanos, por exemplo. Para a filosofia bantu não podem ser encarados, simplesmente, como seres, como um rebanho de criaturas e sim como forças. Homens são mais que o resultado das suas experiencias e da hereditariedade. Um homem não é só aquilo que se ve, é um pouco mais. Não é apenas a soma de seus desejos, sua memória e personalidade. Integram-se ao homem todas as forças que em algum momento venham habita-lo, vindas das coisas vivas e das mortas. Todo o equilibrio da homem vem da administração dos ecos das gerações passadas e a esta ressonãncia - favorável ou não - se somam as particularidades de cada individuo mais a ação das forças vivas e as mortas. Assim o significado da vida de cada um é mais fácil de encontrar. Cada um faz de sua vida o melhor caminho para viver sob influências destas forças.

Eu sei que é meio estranho estar falando sobre isso agora, mas eu acho que eu tenho um ponto, senhoras e senhores. Acho que sim.

Num plano ideal, explicava o sacerdote em meio a goles de Itaipava, a busca é pela harmonia de todas estas forças, mas o inicio da sabedoria é enriquecer-se a si próprio. Enriquecer o muntu, que seria a quantidade de vida presente no ser. O tamanho de cada homem para si mesmo. É mais ou menos a idéia do calvinismo dos escolhidos - que acabou gerando a atual versão do capitalismo - evidenciando que as culturas africanas não sao tão primativas como se pintava. O escolhido é o homem com mais riqueza - fisica e espiritual- com o maior orgulho do auto- enriquecimento, o que consegue equilibrar melhor as forças - boas e más - e transforma-las no ouro das conquistas.

Por tudo isso , parece óbvio, o escolhido do domingo é o Rodrigão.

Nosso querido Ney Franco, que parece ser um homem espiritualizado e maconheiro, como os bons mineiros, acena com a possibilidade de preterir o atacante em favor da volta - mais ética no direito dos boleiros - do ex- titular Marcelo Ramos. Acredito que Franco não fará isso - o que deve acontecer só a partir da semana que vem - visto que ele também deve ter entendido os sinais. E eles estão todos aí.

É so olhar a trajetória do Rodrigão, nos ultimos 2 anos. Oportunidade no Atlético e aquele episódio proctológico dos tres gols anulados. Logo depois o anuncio da terrível doença. Neste periodo dificil o Atlético e a sua familia ( sempre lembrando que ele é o "rei" do basquete brasileiro) podiam ter lhe virado as costas. Não aconteceu. Todo o apoio e a chance no Palmeiras. Alguns gols, boas atuações e muito azar e contusões. Uma declaração ao mesmo tempo infeliz e mal explicada, a cura milagrosa e a volta ao Cap.

Tem um ditado batata que diz " às vezes , da onde a gente menos espera, é que não sai nada mesmo". Isto é o que a unanimidade pensa do Rodrigão no momento. O gol não sai, só a defesa anota. Os "garotos' do adversário são badalados, todos os centroavantes brasileiros resolveram desencantar e o gol dele não sai. A carga das forças do muntu do nosso bravo camisa 9 estão de tal maneira desequilibradas que parece cristalinamente claro a qualquer um com um pouco de sensibilidade aos tambores da floresta que o enriquecimento pessoal que pruoduzirá a harmonia de sua alma amarfanhada vai ser o gol da vitória no Atletiba de domingo. Não é o que vos parece também, meus amigos?

Assim como nos jogos de sinuca todas as bolas são passiveis e possiveis de cair em qualquer momento, não existindo a jogada impossível, assim como nas corridas de puro sangues as trifetas e placês já estão prescritos antes dos trotes de apresentação, nos Atletibas os heróis e os vilões já são conhecidos desde a ante-véspera. O nosso - e Xango ilumine a cabeça do Ney Franco - é o Rodrigão "hortencio", com suas munhequeiras brancas, presença na area e a cara de sonso. Saibam os senhores que o homem é um especialista. Quem sabe ele não marca um daqueles seus gols de "vicicleta ( no melhor sotaque lisboeta). Eu tou apostando. Saravá



2 comentários:

Flávio Jacobsen disse...

saravá e bença, fio

MM disse...

Sandro, mato as saudades de curitiba lendo o Isca