quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

"Cotejo da Rivalidade"

Amigos ,
pelos becos, esquinas, padarias, botecos, casas lotéricas, estações-tubo, consultórios, filas e linhas de montagem só se fala no clássico. Caravanas se organizam no interior do Estado, famílias antecipam a volta das praias, os executivos cancelam viagens e reuniões. Na segunda-feira registrou-se o incrivel caso de um operário (atleticano, por supuesto) que levantou do coma no Hospital do Trabalhador- dois meses depois da queda do andaime - pedindo a um colega de obra que comprasse o ingresso para o jogo de domingo. Bilhete que o bravo servente terá que disputar no tapa, amanhã cedo, com milhares de outros fanáticos, visto que apenas 2.500 deles estarão disponíveis.
Além da restrição numérica, o comando da PM alijou os Fanáticos do uso das faixas e bandeiras, da bateria nota 10 e das caveiras numa daquelas "infaíveis" estratégias de segurança.
Deixando de lado os "entretanto" e indo para os "finalmente", o que eu queria dizer do alto da minha experiência, é que a semana do Atletiba é tão importante que alguns rituais são recomendáveis e necessários. Todo cuidado é pouco. Todos os envolvidos podem decidir o destino do derby - como sabemos, quem ganha ou perde o jogo é a "alma". O vencedor é aquele que cerca o frango por todos os lados e faz ainda um "algo mais" pois os resultados dos Atletibas estão escritos desde muito tempo.
Portanto quem for do candomblé deve procurar o "pai" Gerônimo e amarrar o que tiver de ser amarrado, os católicos devem visitar a sua paróquia e molhar a mão na água benta. Aqueles que(como o Kaká) forem devotos da Bispa Sonia precisam dobrar o valor da contribuição conquanto, os satanistas e os rastafaris são sempre bem-vindos na sede da Caveira.
Quem, como eu, é cartólico agnóstico romantico e tem a vocação e sina de viver neste velha e estranha cidade precisa lembrar que durante esta semana especial - onde Curitiba finalmente se revela- é preciso levar nossas idiossincrasias e beberagens até as ultimas consequências. Fazer os "programas"( epa!) tipicos das bestas dos pinheirais com tudo o que eles tem de profano, pé-quebrado e esquisito. Nada de inventar moda nesta altura dos acontecimentos.
Me explico: se estiveres escolhendo um restaurante a opção óbvia é o Madalosso. Com tudo o que se deve fazer no maracanã dos restaurantes. O ideal é começar os trabalhos com o bate-bate de maracujá enquanto se espera a mesa, ( se acompanhado, sirva à bem amada um alexander ) de olho ali no mapa da Itália na parede.
Já no salão o grande segredo é aliciar um garçom (entre 3 a 5 reais) . O objetivo é conseguir reposição rápida de cerveja gelada. Estas ,por sua vez, devem ser "coordenadas" com a magnifica especialidade da casa - o "vinho tinto de vergonha". Depois de servido o "antepasto" (rúcula sangrando vinagre com bacon") é hora de finalmente cair de boca nas três principais iguarias do menu: polenta frita, o famoso risoto " te-direi-quem-és" e o incomparável frango a passaralho ( frango a passarinho com alho pra caralho). A digestão (geralmente bem sonora) se faz subindo a Manoel Ribas, dirigindo com prudência, em velocidade de cruzeiro, sentido bairro centro, até o Bar da Tia Lili. Lá, a sugestão é uma boa lapada de Macieira - truque que recupera o caboclo para mais umas doze cervejas.
O que eu quero dizer é que o momento pede visitas ao Passeio Público, ao Mueller, ao Armazém Santa Ana . Tradição. Um sorvete no Gaúcho ou no Formiga, um Au-Au. Comprar discos na Figaro, tomar um submarino no Alemão, andar na Boca , passar no Stuart e essas coisas . Nada de paulistagens e viadagens nesta hora. Respeito.
Botecos? Evite-os. Principalmente se o amigo não tem desportividade, paciencia e sangue frio. Ou escolha um que não permita a presença do oponente ( ou que dele exija o silencio) pois sempre vai aparecer um infeliz e a encrenca e o pugilato nascem nos cafés pequenos e nos rabos de galo.
A mercearia Stella é o lugar perfeito ( é para lá estarei me dirigindo dentro de minutos).
Atletiba é coisa séria. Todos os esforços e cuidados já são poucos. Crenças e manias são livres.Nada pode ser descartado.
Tenho uma unica superstição , materialista ecumenico que sou , que reservo apenas aos dias muito especiais. Consiste em conceder-me em jejumum pint de Guinnes, nas manhãs dos grandes jogos. É o famoso "café da manhã dos campeões" e a minha lata preta já está na geladeira. Será bebida enquanto ouço emocionado a narração de gols inesquecíveis na voz insuperável de Lombardi Jr ( na ultima terça completaram-se 14 anos de sua morte).
E já que falamos do passado convido os amigos a assistir - http://www.youtube.com/watch?v=-gjqeFqqW-Y - o antológico curta metragem filmado pelos carissimos Eduardo Aguiar e Luiz Henrique Pellanda e mais alguém , simplesmante o melhor filme já feito em Curitiba.
Quem será o imberbe garoto de voz esganiçada que destrata os coxas com cabeludos palavrões e o clássico e obsceno dedo em riste ?
Amanhã explicarei por que Rodrigão decidirá o jogo.

3 comentários:

Artur Ratton disse...

E ai Guti , aqui é o " mais alguem" que fez o video com o Eduardo e o Guto.O Artur.
Abraços cara e parabens pelo blog

Artur Ratton disse...

e o Luis desculpe

Moser disse...

Grande Artur,
quer dizer que voce é o terceiro homem? Esta eu não sabia - mas bem devia imaginar. quanta honra, meu amigo. voce por aqui. Um abraço