segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

the singer not the song

O mau crítico se revela quando começa por criticar o poeta e não o poema, já bem disse o escritor Ezra Pound. Temos aí uma indiscutível verdade que me incomodou uma noite dessas a tal ponto que me fez migrar da cerveja para o vinho "uma par" de vezes - procedimento não muito recomendável.
O desconforto decorreu de uma simplificação - algo cafageste- que fiz do filme sobre o Noel (cabe esclarecer que para mim o "Homem da Vila Isabel" foi o grande brasileiro do século passado). Atribuí à figura do diretor - que eu nunca vi mais gorda - suas amizades e opções toda a responsabilidade pelo resultado trágico de sua obra.
Minha sorte é que eu não sou e nunca serei crítico ( se fosse seria um dos maus). Na verdade não sei direito por que estou falando sobre isso agora com tantos assuntos tão mais importantes e inadiáveis na ordem do dia; a conferencia de bali, a fidelidade partidária, a transposição do São Francisco, febre amarela, tem Atletiba domingo etc... eu aqui enchendo o saco do rapaz que pelo menos fez um filme com samba e pagou todo mundo e tal.
Ocorre que depois de alguma polemica - a menor do mundo pois só existiu dentro da minha cabeça - me ocupei em dar uma geral na critica profissional e remunerada e as impressões que Noel - o Poeta da Vila despertou. Para todos os lados foi um tal de " despertar o saudosismo lírico do Rio dos anos 20 e 30" ou " apresentar as novas geraçoes a obra imortal do poeta" e por aí vai. A mesma saraivada de clichês em que o filme se apóia
Ó novas gerações , quanta besteira se comete em vosso nome . Em determinado momento toda geração é nova. Atualmente a nova geração está em maus lençóis - mas o negócio é que eles também não se ajudam. Como eu já disse dia desses a minha geração já era um lixo e a que nos precedeu também não era lá grande coisa. Então me parece injusto deformar e imbecilizar a história em nome deste apostolado de " iluminar o caminho da nova geração". Ainda mais quando não se tem o dom de iludir ( deixo claro também que a teoria do autor é cascata - o diretor não é o dono do filme - todos na equipe e principalmente o roteirista respondem pelo abacaxi).
E mais, se o negócio é contribuir para as novas gerações darei, de yapa, o meu conselho. Para quem pretende se inciar em Noel Rosa é de bom tom começar com o disco Aracy de Almeida e Mário Reis cantam Noel Rosa , que pode ser encomendado no selo Revivendo com o atalho aí ao lado.
Este é o caminho das pedras. a partir dái voce não para mais, com mais discos, artigos e a indispensável e já citada biografia, além das biografias (escritas por Sérgio Cabral, Ruy Castro e Marilia Barboza e outros) de artistas contemporâneos ao Noel e os livros do Aldir Blanc sobre a Vila e quando voce se toca, já está instalado ali na rua Teodoro da Silva tomando chope e percebendo como os homens - de geração para geração - conseguem cagar até com as coisas mais sublimes.
Assunto encerrado e a partir de agora prometo que não mais cometerei a poundiana leviandade de começar a julgar o poema pelo autor. Não conheço, não tenho nada contra o diretor , suas amizades, preferencias ou boas intenções. Mas que seu filme ficou uma bela merda, ah, isso ficou.

Um comentário:

Flávio Jacobsen disse...

Guti, como fica feio lhe pedir um autógrafo, assino embaixo, sem grifos... madame satã é uma merda, este noel e o garrincha nem vou ver, deve ser de deixar com vergonha... bem, eu sinto vergonha, sei lá por que... shame, bro... shame... grande abraço.