domingo, 6 de janeiro de 2008

No ano de nosso senhor que poderemos chamar de 10 do XXI deverei, se ainda vivo e flanando por ruas e avenidas, assistir in loco minha prmeira Copa do Mundo. E a seguinte, se ainda existirem o mundo e suas ruas e avenidas, será realizada aqui no torrão natal das jovialidades auriverdes. Então temos presença garantida em duas edições do Torneio - tão cafageste do ponto de vista esportivo , quanto importante da perspectiva histórica.
O que eu queria dizer é que para todos nós - e devo imaginar como deve ser para caras como o Mendes e o Saldanha que assistiram praticamente a todas - a Copa serve para virgular a nossa inexorável passagem por esta encarnação. Almas e corpos novos a cada quatro anos e assim vamos nos lembrando - da esquerda para a direita :
Da ultima Copa muito pouco . A cerimônia de abertura organizada e realizada com sucesso na Mansão Cunha, quando mergulhei de dentro de uma longa e oportuna abistinência numa olim pica piscina de aguardente onde tento, até agora - nada sincronizado- não me afogar. Do futebol, o positivo foi o fim da Cosena, dos parreiras, zagallos dos Lidios Toledos e o resto do exército de escroques do Dr. Havelange. A seleção foi a mais infame de todas- salvando-se apenas o grande Juan que parece jogar de polainas como um negro do Cotton Club.
2002 foi inesquecível. O grande momento foram as partidas da Alemanha em manhãs de fartura e torpor , com mesas e torneira abertas aos barbaros - como eu e o grande Matias. No fundo desde a estréia do Felipão em Montevideu( quando eu e o grande Otto inciamos a famigerada "operação Uruguay") até a final na casadoscaras deu-se uma sucessão de grandes momentos que marcaram - pessoalmente- o fim dos meus melhores dias.
Em 98 caí doente na vespera da final, com alguns sintomas misteriosos, exatamente como passou ao nosso principal atacante. Ah, como seria o perfeito o destino se Zico, Zagallo e Lidio ( o que fazias com esta turma ó Galo?) não tivessem cagado ao pau e cortado o Romário. O baixinho apareceria fatal, no momento certo - como de costume - e sorrateiramente traria mais uma vez o mundo na janela do Jumbo.
A grande musica do Beijo AA Força já trazia a profecia fatal " dessa vez não deu mas nos EUA vai dar ". De resto, devo dizer que aquele time não era tão ruim como se pinta e tinha a grande dupla de ataque daquela década ( que filhadaputamente perdeu um caminhão de gols na fianl). pessoalmente enfrentava grave crise pessoal por conta de meu primeiro coma alcoolico, diagnosticado horas antes da final - as tragédias sempre me aparecem nestas horas. Foi o meu ultimo encontro com o Dr. Steinhegger e a sua panacéia com gosto de madeira e morte.
Em 90 o menino bom e justo que eu era não percebeu como Maradona e os seus mereceram aquela vitória contra a nossa avacalhada seleção ( que também não era tão ruim como se pinta). Fiquei puto, quebrei algumas coisa e posso até ter chorado numa manhã ensolarada ali na Rua 21 de Abril. Foi de todas a Copa mais marcante e a que acompanhei com todas as forças dos meus 12 anos - idade que deveria acompanhar eternamente o torcedor de futebol.
As outras duas Copas ocorreram durante o período mágico da minha infância e todas as memórias são lindas e exageradas. Lembro o gol do Maradona em 86 na grande casa Strapassola , um gol que me deu medo a principio. Dos gols de Josimar ( assina que o gol é teu, meu garotinho...) de todos os jogos, as narrações do Osmar Santos, meu pai secando os penaltis na sala da casa da Omama "ihh, este negão vai chutar pra fora...", e da grande tragédia que foi toda a situação do Zico. mais uma vez o menino bom e justo não entendia como Deus podia falhar até aquele ponto - e neste caso foi sacanagem mesmo.
A Copa de 82 foi a mais linda de todas. Um filme de Fellini onde meu pai era o protagonista, entusiasmado com a democracia, o grande time do Atlético e a super-seleção do Telê - tudo explodindo ao mesmo tempo. Eu flutuava por uma Curitiba quase rural, atrás do milionésimo ping-pong, com meus irmão que também tinham asas e voavam. Do alto dos meus quatro anos eu reunia pequenas multidões que vinham de longe ver o fenomenal menino que sabia de cor todos os times, pronunciava o nome dos jogadores camoroneses, argelinos e neozelandeses com sotaque, e também curava com a imposição de mãos:
_ "tem que levar este piá no Silvio Santos..." eu ouvi mais de uma vez. Eu lembro do gosto do ping-pong até hoje num dia em que o Brasil inteiro chorou - atá a maioria dos canalhas ( que são minoria no pais, graças a Deus).
E assim se passaram 7 Torneios Mundiais ( o de 78 eu já peguei com alguns meses , mas confesso que me lembro muito pouco ...) um campeonato que por "não ter nem segundo turno" costuma perpetrar injustiças cruéis. Estaremos juntos em Joahanessburgo, eu te prometo.

Um comentário:

Flávio Jacobsen disse...

deus te ouça e vamos de long boards na bagagem, mermão... as copas vêm em ondas...