terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O primeiro dia

A maré está vazante. É tempo de perder na sabedoria dos pescadores. Deixar as coisas irem. Esperar que outras venham. Nestes 4 dias a pesca fica prejudicada. e não existe mais nada para se brincar. a unica boa brincadeira a que o homem pode se permitir é ser pescador. o que mais? já pensou ficar em casa bebendo e ouvindo velhas músicas e depois brincar de ser escritor? não dá, principalmente para mim que andei escorado durante muito tempo por aí. agora eu preciso ficar parado, com deus e esperando a maré virar.
E já que eu falei na reconciliação com as coisas de Deus e das escrituras eu preciso usar o pouco que eu me lembro destas coisas para deixar bem claro o que eu penso.
hoje depois de tudo já consigo perceber que o amor em verdade é o bem, e não se consegue amar nada que não seja o que entendemos como o bem ( como são falsos os amores bandidos, como são falsas as bolas de cristal). Será que já falamos sobre isso?
qual seja:
O amor é o bem. fica meio complicado quando misturamos a idéia com a do desejo e do pecado, quando pensamos o amor como o mal da vontade, como o "atributo irascivel" e não como a verdadeira dádiva do bem supremo.
Então para quem prova este amor ( e eu tenho a certeza de que o provo, bem como a de que já disse isso antes) , o que os doutos da idade média descreviam como o amor mais santo ,o problema sublime e doloroso é administrar a fome.
O amor de que vos falo é aquele que provoca, em extase, um momento inexplicável, misterioso em que os dois querem e sentem a mesma coisa. Veja só, eu sei que o meu amor agora quer as mesmas coisas que eu próprio. Este é o milagre do amor entre ausentes.
Ainda na minha pequena anamnese teológica é importante falar do ciúme. O cíume é o perfume do amor, um bem necessário como dizia o nosso homem em LA. Não o ciúme violento do Jake la Motta. não aquele condenável, que tem como principio o medo, a clausura, a amargura ( e que o apostolo Paulo - que era de Damasco como as boas lâminas - chamava de principium contentionis). este ciúme não admite a alegria, o consórcio das vidas, anula o amor.
Dionisio em seus nomes divinos fala de um outro ciúme e admite que o próprio Deus também o sinta. A mecanica é mais ou menos assim. Ama-se uma mulher ( o certo é sempre amar uma mulher) exatamente por que ela existe, e deve se aproveitar o iluminado regozijo de sua existencia, e não - em nenhuma hipotese - se sentir dor ou inveja por esta dádiva. O ciume deve ser o motus in amatum , uma força que te induz a mover-se contra tudo aquilo que prejudica a quem se ama tanto ( mesmo que seja você).
E Deus , pelo menos voce eu queria que soubesse, que eu não penso em outra coisa que não libertar o meu amor do que lhe é perigoso, vil e nefasto. E que depois de passar por toda esta prova gostaria de merecer aqui nesta tua terra maravilhosa e mal frequentada, um tempo de maré cheia.

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