terça-feira, 24 de abril de 2007


Alejandro Finisterre, este simpático senhor aí ao lado era poeta, editor e foi o inventor do pebolim. Recentemente falecido (fevereiro passado) contou em entrevista, concedida ao jornal espanhol El periodico em 2004, que teve a idéia do apaixonante jogo aos 17 anos . Sua história foi uma grande aventura ligada ao drama dos violentos anos 30 e 40 na Europa. Meu amigo Rodrigo Jardim me mandou este excerto da reportagem de Marcos Guterman publicada logo após sua morte. Leia trechos da entrevista de Finisterre ao diário catalão :
El Periódico - Como lhe ocorreu a idéia do pebolim?
Alejandro Finisterre - Por culpa de uma bomba nazista, das que foram lançadas sobre Madri [durante a Guerra Civil Espanhola]. Fiquei soterrado com graves ferimentos. Levaram-me para Valência e depois a um hospital da Colônia Puig de Montserrat. A maioria dos que estavam lá eram mutilados de guerra. Eu tinha jogado futebol – inclusive perdi um dente num chute –, mas havia ficado manco e invejava os que podiam jogar. Também gostava de tênis de mesa. Aí pensei: por que não criar o futebol de mesa?
El Periódico - E então o senhor pôs as mãos à obra.
Finisterre - Um pouco antes do Natal de 1936 comprei em Barcelona umas barras, e um carpinteiro basco, Francisco Javier Altuna, também refugiado, me fez a mesa e torneou os jogadores. O líder da CNT [sindical] e da FAI [anarquista], Joan Busquets, um anarquista de Monistrol que tinha uma fábrica de refrigerantes, viu o brinquedo e me animou a patenteá-lo. Eu o patenteei no princípio de 1937, assim como o primeiro“passa-folhas” de partituras movido com o pé, que fiz para Núria, uma pianista lindíssima, por quem me apaixonei loucamente nas reuniões de sábado na colônia.
El Periódico - Mas o senhor perdeu a patente, não foi?
Finisterre - Tive de fugir para a França, cruzando a pé os Pirineus. Na mochila só levava a patente, uma lata de sardinhas e duas obras de teatro, “Helena” e“Del Amor y de la Muerte”. Choveu a cântaros durante dez dias e os papéis se converteram em argamassa.
El Periódico - Que terrível!
Finisterre - Tive de ir aos Arquivos de Salamanca. Em1948, estando já em Paris, soube que um companheiro de hospital, Magí Muntaner, do Partido Operário daUnificação Marxista, tinha patenteado o pebolim em Perpinyà. Ao que parece, ele me escreveu para contar isso, mas as cartas se perderam. Aborreci a empresa que os estava fabricando e me deram dinheiro suficiente para ir ao Equador, onde fundei a revista Ecuador 0°, 0', 0''.
El Periódico - Mas ficou sem o pebolim.
Finisterre - Na apresentação da revista conheci o embaixador da Guatemala, que me animou a fabricar opebolim em seu país. Mãos indígenas o fizeram, com mogno de Santa Maria, finíssimo. Uma maravilha!
El Periódico - E o senhor fez uns gols em Che Guevara?
Finisterre - Sim. Uma irmã minha fez amizade com Hilda Gadea, então companheira de Che. Ele vinha todos os dias ao Centro Republicano Espanhol da Guatemala. Tínhamos estilos parecidos.
El Periódico - O senhor deve ser o melhor jogador do mundo.
Finisterre - Sou se jogo com minhas bolas de pebolim. Essas bolas duras de hoje não permitem fazer efeitos. O pebolim é um jogo que não estimula o autismo, como os videogames, mas sim a amizade, o companheirismo, a coordenação de movimentos entre a mão direita e a esquerda.

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