quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Feijoada na Mansão S


O feijão e as carnes já iam pro molho na sexta. A casa ficava ali-um pouco pra baixo do topo do antigo Morro do Querosene. Região da caixa d’água, perto do Armazém do Nico. Ali no Nico, entre mézinho e fezinhas o André ( tinha acertado o 319 , a centena fatal das 18 horas) calculava o barulho que, no dia seguinte, haveria no chateau.
Outra preocupação de véspera era com as cachaças. Tinha uma branquinha de Minas ( especialmente descaminhada do bar do “seo” Sérgio). Esta era pra tomar minuto antes de encher o prato. Tinha uma amarelinha( “quase um licor” segundo suas contas), rebatedora por excelência. Sem falar daquela pendurada em metro na parede. Aquela “pega-trouxa” dum alambique de Antonina. Perigosíssima. Perdia apenas para os solventes e as colas na oficina instalada na garagem ( difícil pagode onde nego não passasse a mão no thinner).
Quem sabia das coisas- como eu – já ia chegando cedo. Para abrir ao lado do dono, os trabalhos. Cerveja preta, é claro. E provar o primeiro corte estratégico da famosa caipirinha sem açúcar. O Nico que não podia comparecer mandava um guaco ou um maracujá no seu lugar. E sempre havia um tremocinho ou uma azeitona.
Mesmo diante do cenário ( notadamente favorável) o nosso anfitrião André Luis transparecia desconforto . È que pelos seus cálculos as duas caixas de Brahma Extra pareciam insuficientes. O ritmo que a coisa prometia pegar logo exigiria uma constrangedora vaquinha do “comprar-mais”. Foi o altivo Luis E quem trouxe as boas novas:
_ Tem mais lá na geladeira de dentro...
E de fato, como se verificou, na cozinha haviam muitas latas sabiamente espalhadas, escondidas – pequenos tesouros para prospecção futura. A voz do Luis E, trazia de volta a serenidade ao ambiente:
_ Os caras vão trazer umas outras...
André, um pouco mais tranqüilo, comandou a solenidade de abertura. Os convivas começaram a aportar. Eram recebidos com a proverbial classe por Dona Ziloá, que esbanjava simpatia e presença de espírito deixando todo mundo a vontade:
_ Essa não é a mesma menina que você trouxe da outra vez, né?
Enquanto isso o bacurinho nadava na fervura preta. Uma feijoada completa com as orelhas, o rabo e tudo em cima.As laranjas colhidas horas antes na feira, com todo cuidado. A couve mineira da produção particular. De resto tudo preparado, cortado, azeitado. Toda uma antologia de pimentas – do reino, de cheiro, malagueta e uma especialmente braba – a “te direi quem és”. Contam que ela foi trazida, numa arriscada operação, do sertão da Paraíba:
_ è pimenta com mijo de bode. Essa é boa... esclarecia “seo” Sergio que já se instalava no quintal.
A coisa fluia mansa , do mesmo jeito que as meninas perdem a virgindade – naturalmente. A moçada ia chegado. O grande caio Maré Vermelha e sua cuíca inseparável. Luis Gustavo trazendo novidade da índia e do rio de janeiro. O betão apareceu com uma mulher “diferente” vamos dizer. Tinha metade do rosto derretido, mas até que dava um caldo – apesar de aum pouco acima das medidas Me chamou num canto pra explicar:
_ sabe como é, nesse negócio de mulher eu sou um Osmar santos. Ripa na chulipa e pimba na gorduchina...
. O Marcelinho apareceu com um garotão de uns treze anos:
_ É meu filho, fiquei sabendo esta semana. Ó aí rapaziada, e olhando pro moleque, como é o teu nome mesmo?
Muita sensação causou a chegada do Douglinhas, sempre acompanhado das gêmeas percussionistas. Ele já chegou pedindo para usar o toalete. Muitas pessoas e mulheres que ninguém conhecia, um sol de abril daqueles, e aos poucos os instrumentos foram sendo apresentados. “Seo” Sergio de passagem pelo fogão, levantou a tampa e fez a observação mordaz:
_ Parece a piscina da casa do Mussum...
Aqui e ali se ouviam gargalhadas, anedotas, pequenas discussões e mentiras delirantes. Todos falando ao mesmo tempo e os canecos de caipirinha light corendo de mão em mão. A namorada do betão pediu um espelho e um “paninho”, o jardineiro Luis pediu a palavra:
_ Eu só queria dizer o carismo que eu tenho com todos voc~es e tal ...
Foi muito aplaudido. Logo o imortal Paulo Clementina pediu um Lá maior, no que foi atendido. Douglas , já de volta ordenava _ da aqui este violão...
O nosso André Luis cofiava os bigodes e refazia os cálculos: “hoje o negoço vai longe”. Mais um sábado tranqüilo no Morro do querosene.

Um comentário:

Unknown disse...

CARNE É CRIME!
Pela Libertação Animal!