quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

2008

A sorte de torcer para o Atlético é poder ler coisas assim, como escreveu o Mauro Singer:
_Meninos rubro-negros, amanhã é o dia D. Vamos reconquistar o estado iniciando nossa invasão pelo litoral. Assim como os aliados nas praias da Normandia, a nação atleticana começa seu ano tomando a cidade de Paranaguá.
Claro que o espírito era esse. Eu mesmo me preparei como um pára-quedista aliado e pousei com todo o meu equipamento na bela cidade – que está a cada dia mais parecida com Cuba. Uma das histórias mal-contadas do João Saldanha é a de que ele teria presenciado o desembarque das tropas do Gal. Montgomery no mais longo dos dias. Eu não duvido.
Vencidos os poucos quilômetros e após rápida inspeção na rede hoteleira da área, optei (é claro) pelas 5 estrelas o que, evidentemente, estaria além das minhas posses mas também combinava melhor com meus óculos novos e o meu jeito misterioso - de menino prodígio mais velho do mundo.
E também por conta de um pequeno erro no pagamento do acerto de contas no meu ultimo emprego. Depois de me enrolarem durante alguns meses os caras finalmente pagaram e , para minha grande surpresa, o dobro do que eu imaginava. Antes que qualquer paranóia ética viesse me atormentar (já tenho paranóias demais me atormentando) resolvi que o mais nobre era injetar o excedente na economia de Paranaguá. E foi o que eu passei a fazer assim que devidamente instalado. Uma cerveja em cada bar da orla do centro histórico, algumas boas estórias de rabo de ouvido. Foi-me de grande valia a dica sobre umas ostras no barzinho dos pescadores, perto da ponte. Quanta depravação na arte de comer ostras. È erótico, obsceno e incestuoso como nenhuma outra comida no mundo (“o inferno são as ostras”).
Já era a hora de adentrar ao novo colosso da municipalidade parnaguara - O estádio é simpaticamente mal acabado na beira do Rio Itibere , ponta do caju. Sem duvida o terceiro melhor da região ( na frente da Vila e o Germano Krüger) e tem a proverbial pista de atletismo cuja a construção sempre tem uma história de corrupção e tráfico de influencia em sua origem.
O meu grande amigo Sandro “the postman” Michaelev me lembra que os anos terminados em 8 sempre reservam fortes emoções ao CAP. Ta aí uma grande e perspicaz verdade. Mesmo nossas derrotas foram épicas e (ou) mal-explicadas nos anos terminados em 8. Pelo menos nos últimos 50.
Todas as velhas caras ali. Eu gosto e não me venham com aquela psicologia de galinheiro sobre as massas, os grupamentos e não sei mais o que. Apenas ordinary people, com um pouco de fé e.... foda-se quem não gosta – e de resto toda psicologia é de galinheiro. Algumas personagens fundamentais apareceram para aumentar a certeza na vitória . O grande Guimarães cada vez mais com cara de boxeur aposentado, o cara de cadeira de rodas que joga sinuca pra caralho e a volta do Dr. K, cada vez mais hooligan. Vou guardar a comovente estória dele com o bandeirinha para o ultimo parágrafo.
Meu pai gosta de contar que meu avô – um homem que dificilmente saia de cima de seus tamancos em Porto Vitória – foi arrastado por ele e meus tios para ver o celebre jogo do Atlético contra o Santos de Pelé em 68 (este numero fatal). No meio da Vila Capanema superlotada ele percebeu o óbvio e falou no ouvido do meu pai o vaticínio:
_ O Atlético vai ganhar, Tico. São mais “grande”.
Era o Atlético de Bellini, Djalma, Nair, Zé Roberto e outros. Um time de porte , cheio de negão e de colono contra um Santos de Edu (Zinho), Toninho e uma outra porção de inhos. E o Atlético ganhou, heroicamente, de 3 a 2 do melhor time do mundo. Lembrei do meu avô – que eu não conheci – na hora em que o Rio Branco ( já derrotado) entrou em campo. Sei que este tema sempre dá margem a polemica e mal-entendido, mas o fato é que no time de Paranaguá não joga um único e escasso crioulo. É isso aí; não tem nenhum negão entre os 11. Nenhum beque responsa ( zagueiro-zagueiro), nenhum marcador incasavel, nenhum atacante ardiloso. Nenhum colored; só um monte de branquelo e um ou outro assim meio cor-de-cuia ( nenhum mais escuro, por exemplo, que o genial índio Davi Ferreira). Um time de futebol profissional em 2008, no Brasil, que entra em campo sem negros já entra perdedor. A bem da verdade o único negro era o técnico - o simpático Itamar, que fica fazendo um divertido teatro na beira do gramado. Só não ganha o Emmy do canastrão-mor, o grande Sir Clayton - este sim um bandido de filme mexicano na arte de encenar.
Dois belos gols de Rhodolfo (que é sósia do Petraglia) e Davi Ferreira. De resto a confirmação de tudo o que todo mundo já sabe. E a impressão de que com um acerto ou outro (no gol, laterais, armação e centravância) deveremos ser campeões invictos.
E como eu havia prometido a tal história do Dr K.
Companheiro de arquibancadas desde 1988 (olha ele aí de novo) o nosso Dr. sempre foi o campeão mundial de cuspe a distância, de limpar ranho nas costas dos outros e nesse tipo de sacangem – quanto mais nojenta melhor. Não por acaso ele evoluiu para a Medicina e hoje ele é um dos mais aclamado proctologistas (não podia ser outra a especialidade) do Brasil. Pois bem. Todos se lembram que na semifinal de 2006 fomos eliminados pela Adap, num jogo em que o bandeira – aquele narigudo da FIFA, que anda sempre com o Heber - anulou três gols do Rodrigão. Não adianta dizer que ele estava impedido nas três oportunidades. Não para caras como o Dr. K.
Por uma destas diabólicas coincidências o nosso querido bandeira _ Braatz é o nome , agora me lembrei – calhou de aparecer no gabinete do Dr. K ( na certa indicado por alguem como o melhor profissional destas plagas )para fazer o inadiável exame da próstata.
Mantendo o sangue frio típico dos assassinos profissionais, o medico-monstro urdiu rapidamente um plano (digno do melhor Poe) para perpetrar a vingança . Vestida a luva macabra deu-se o ‘toque”. O Dr. Franziu a testa, e fez aquela cara filha-da-puta que alarma até o desespero os pacientes:
_ O que foi Dr? O que aconteceu?
_ Não deve ser nada. Não é nada . É só uma calosidade no tecido retal, sensível ao tato. Não deve ser nada.... mas pode ser ...
O bandeirinha se viu a beira da morte , já pensando nas tarde e noites em que ele não poderia mais anular gols com seu instrumento de trabalho:
_ E agora Dr, o que a gente faz?
_ Olha , meu amigo o certo agora é a gente fazer um “procedimento”aí, para descobrir a natureza do calo... Você autoriza?
Ele é claro, autorizou. E foi assim que o Dr. K conseguiu enfiar um negócio de uns vinte e cinco centímetros no cu do bandeirinha mais marrento do Brasil.

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