sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Velez: os donos do “Fortín”

Se existe algo que identifica o Vélez é o esforço em fazer as coisas certas, de pensar o clube, ter uma estratégia de crescimento e conseguir alcançá-la. Isto é o Vélez hoje, isto foi o Vélez há cinqüenta anos.
Villa Luro ou Liniers? Os seus torcedores ficam sem voz gritando “ Soy Del barrio de Liniers, lo sigo a Vélez a todos lados...” mas cantam também o famoso “ ... porque este año, de Villa Luro, salió nuevo campeón”. Na verdade, os limites geográficos de Liniers alcançam o Vélez ao passo que a Villa Luro fica há alguns metros, atrás da rua Irigoyen. As duas estações de trem da velha Ferrocarril Sarmiento estão bem próximas do enorme prédio do clube, paralelo à Avenida Juan B. É isso.
Fora o Lanus, é a instituição mais jovem de Buenos Aires, visto que “recém” foi criada em 1910. Parece que chovia muito naquele primeiro dia do ano do centenário, porque os três sujeitos que tiveram a idéia se protegeram do aguaceiro de verão embaixo da Estação Floresta, no túnel que unia os dois pavimentos. Julio Guglielmone, Martin Portillo e Nicolas Marin Moreno foram os fundadores do clube, com a simples idéia de se filiar à federação e começar a participar dos torneios de futebol. Depois daquele túnel os três foram até a casa de Marin Moreno, vizinha aa Estação. Floresta era o terminal da antiga Ferrocarril Del Oeste, que unia a Plaza Lavalle até este lugar remoto no Oeste.
Os três, contando com a adesão de vários jovens da região, decidiram criar o Club Atlético Argetinos de Vélez Sarsfield e designaram Luis Barredo como o primeiro presidente. O campo ficava no terreno localizado em Províncias Unidas ( atual Juan bautista Alberdi), Convencion ( hoje José Bonifácio), Mariano Acosta e Ensenada. Resolveram usar camisas brancas, um recurso para consegui-las rapidamente, apesar de que vários dos garotos se empenharam em costurar punhos e golas vermelho escuro. Não conseguinham, entretanto, se conformar com cores e no dia 3 de fevereiro de 1912 mudara as camisas para azul-marinho com calções brancos, com recomendação expressa aos jogadores que comprassem a indumentária numa loja na esquina de Rafaela e Províncias Unidas.
Mas as coisas não saíram do jeito que os “pibes’ haviam imaginado. Não puderam se filiar à liga principal – que já deixara para trás a época de glória do Alumi e começava a mostrar o predomínio do Racing. Coincidindo com o primeiro título da Academia , tomaram várias decisões importantes: em 1913 uma assembléia resolveu suprimir a palavra “Argentinos” e assim ficou definido o nome do clube, que já tinha animado em 1912 o campeonato da Segunda Divisão chegando a disputar a final e perdendo de 4 a 2 para o Tigre, no velho campo do Gymnasia e Esgrima, em Palermo.
Antes do fim do ano, os dirigentes resolveram alugar um terreno na chamada “quinta del figallo” situado em Matadores na rua Talpaqué, entre Escalada e Chascomús. Ali, um moinho de vento provia água para a rudimetar casinha que servia como “vestiário.
Já em 1914 se praticou uma nova e importante mudança: se construiu o campo em Villa Luro, na zona delimitada entra as ruas Victor Hugo, Bacacay, Cortina e o próprio arroio Maldonado, que ainda corria ao ar livre, junto ao velho “Camino de Gauna” (hoje Avenida Gaona).
A 14 de março , devido a ascendencia italiana da maioria dos sócios, se resolve tomar como uniforme oficial uma camisa tricolor com as cores da Bandeira da Itália, que foi usada durante quase duas décadas: listras vertical vermelhas e verdes, separadas por uma fina listra branca.
A chegada do clube a primeira divisão se deu em 1918 e a campanha no ano inaugural foi sensacional com o Vélez chegando ao vice-campeonato ( com o Racing como campeão) quatro pontos a frente a frente do River e defensores de Belgrano. Na sua estréia , derrotou o Independiente por 1 a o. Em 1920 a equipe manteve o bom andar, ocupando a sexta colocação entre 19 participantes. Teve, inclusive o artilheiro do campeonato – única vez do Vélez em todo o período do amadorismo- que foi Santiago Carreras com 20 gols. Um mês depois o primeiro jogador velezano debutaria na seleção. As honras couberam a José Luis Boffi, que jogou no dia 25 de Setembro de 1921, quando a Argentina goleou o Chile por 4-1 no Estádio do Sporting Club de Valparaíso.
Na metade do torneio de 1920 se encorporou o escudo com as cores da bandeira italiana, que foi modificado em 1927 e mais tarde em 33. Outra mudança de endereço dentro do próprio bairro nesta época. O estádio agora esta situado na zona sul de Villa Suro, entre as ruas Basualdo, Pizarro, Schimidel e Guardiã Nacional e tinha sido inaugurado 26 de março de 1924, num empate em 2 a 2 com o River. No começo de novembro de 23 , foi concluída a construção da grande tribuna , com arquibancadas de madeira no novo campo de Basualdo. A tribuna tina a clássica cobertura , estilo inglês, e abrigava os sócios e os diretores em suas dependências.

Don Pepe – Nesta década de 20 aconteceu um fato fundamental para o futuro do Vélez: em 13 de março de 1923, a assembléia elege como novo presidente Jose Amalfitani que, para dedicar-se completamente sua tarefa, renunciou a seu posto de cronista esportivo no diário la Prensa. Em 7 de dezembro de 1928 o Vélez produziu um sucesso histórico no futebol argentino: jogou em seu estádio a primeira partida noturna da história. Foram instalados ao redor do campo postes de madeira que sustentava, 39 focos de 3.000 velas cada um. Como a ocasião merecia o jogo organizado foi o encontro entre a Seleção Argentina e a Seleção Olímpica. O diário La Nacion anunciou no dia seguinte: “Villa Luro nunca viu, em noite alguma, tanta gente em suas ruas...” . Já fazendo parte do grupo de clubes com apelo popular, o Vélez empreendeu uma longa viagem – que começou em Novembro de 1930 e terminou em pricipios de março de 31 – com resultado impressionante. Foram 25 partidas entre Chile, Peru, Cuba, México e Estados Unidos, com 20 vitórias, 4 empates e apenas uma derrota. No grupo de 17 jogadores qu participou do giro, 10 eram do clube e outros sete pertenciam a outras equipes e jogaram convidados. Entra os hóspedes estavam os tremendos goleadores Bernabé Ferreira e Francisco Varallo. Os dois fizeram 54 dos 84 gols da importante excursão do Vélez.
O futebol profissional arrancou em 1931 e os velezanos integraram com entusiasmo o novo torneio realizado, perdendo na estréia do Platense. O novo Estádio de Villa Luro se foi convertendo num bastião para somar pontos e crescer. Em 13 de setembro de 1932, o Vélez receberia o San Lorenzo. Nas véspera do jogo o diário Crítica apresentou a partida na seguinte manchete de primeira página: San Lorenzo conseguirá render o “ Fortín”( fortaleza em portugues, talvez ) de Villa Luro?”. O autor foi o chefe da página esportiva Hugo Marini, um dos jornalista mais respeitados da época. A partida terminou empatada em 1 a 1. A partida seguinte, como mandante, foi contra o River, que seria o campeão deste ano. Outro empate: 0 a 0. O apelido O “ Fortín” de Villa Luro ficou gravado na história para sempre.
A década de ’30 encontrou um Vélez muito forte em casa, mas com problemas para vencer como visitante. Apesar de tudo, realizou algumas boas campanhas e lançou muitos jogadores. De graça, mostrou a capacidade do meio campista Victorio Spinetto e a potencia goleadora de Agustn Cosso, entre os mais destacados. Tanto Cosso como Spinetto foram protagonistas da partida em que o Vélez empatou por um gol contra o San Lorenzo em 30 de abril de 1933. Nesta tarde, o quadro do oeste portenho apresentou pela primeira vez a camisa branca com o “V” azul. Eram as camisas de um obscuro time de rugby, que as havia encomendado a um fabricante, e este por descuido ofereceu aos dirigentes do clube. Foram adotadas para sempre e ficaram na saudade as antigas tricolores ( que são desempoeiradas de vez em quando para alguma partida festiva).
O Vélez foi protagonista de boas campanhas, mas foi rebaixado por uma única vez em sua história em 1940 ,ao lado do Chacarita, penalizado por uma tentativa de suborno que provocou um desconto de vários pontos. O quadro de Liniers chegou a ultima rodada com um ponto de vantagem sobre o Atlanta e jogaria em casa contra o san Lorenzo, enquanto o time de Villa crespo receberia o o poderoso Independiente de Arsênio Erico, Vicente de la Mata e Antonio Sastre. Quando terminaram os primeiros tempos dos jogos, Vélez empatava sem gols contra “el Cicion”, mas o Atlanta vencia o Indpendiente por inacreditáveis 6 a 0.
Foi uma indignação que acompanhou a torcida velezana durante as próxim as décadas e de resto nunca perdoaram o Independiente. O papelão dos vermelhos foi tão escancarado que para dissimular, marcaram quatro gols no segundo tempo.A partida acabou 6 a 4 e o resultado refletiu no nervosismo dos jogadores do Vélez que nos minutos finais sofreram dois gol de Lángara – que definiu a vitória do san Lorenzo e o rebaixamento , pela única vez, a segunda divisão.
Renascimento – Explica uma das paginas oficiais do Vélez na Internet ( Vélez Del Mundo) que "as conseqüências foram nefastas: o clube preciso entregar em 1941 os terrenos que ocupava em basualdo e Schimidel, o elenco profissional se dissolveu e mais de cem sócios renunciaram. A maioria dos que permaneceram foram em busca de José Amalfitani ante o perigo de extinção, porque muitos consideravam que o Vélez só sobreviveria se fundindo com um outro clube. Neste momento Amalfitani se pronunciou, num arrazoado que comoveu a todos, a tal ponto que nesnte mesmo momento se decidiu a nomeação de uma Comissão Cooperadora para acompanhar a claudicante Comissão diretiva. Amalfitani, logicamente, tomaria parte nela. As palavras de Don Pepe foram promonitórias: ‘Senhores, eu não vim aqui rezar no funeral do Vélez Sarsfield. O que me importa a segunda ou a terceira divisão se o Vélez passeou seu escudo triunfal por todo um continente! Ainda que restem apenas 10 sócios, o clube segue me pé!’ ( e 10 sócios era o numero mínimo permitido pelos estatutos)”
Don Pepe, que na época tinha 46 anos, assumiu novamente como presidente, com o clube na segundona. Jogando em Estádios emprestados, numa época em que o regulamento previa apenas o acesso do campeão. Vélez foi o quarto em 41, terceiro em 42 e finalmente campeão em 43. Nesta campanha, vários jogadores tiveram desempenhos consagratórios, como Michel Rugilo, Juan Ferraro, armando Ovide e o wing Heisecke.
Enquanto buscava o retorno a primeira divisão, um grupo de diretores liderados por Amalfitani recebebeu dos britânicos, donos da Ferrocarril Oeste as terras do “pântano de Maldonado”, uma zona limítrofe ao arroio, alagadiça e segundo alguns especialistas impossível de se aterrar convenientemente. Com o derrame de enormes quantidades de pedra e terra se conseguiu estabilizar o terreno e edificar ali um novo Estádio ( embrião do atual). A inauguração foi uma partida contra o River em 11 de abril de 1943, o mesmo ano em que a equipe logrou a ascensão para a primeira divisão. Para a construção, foram trazidos as velhas arquibancadas do primeiro “Fortín” de Basulado e assim começou uma nova era.
Novo Vélez – Paga a conta histórica com o Independiente – o Vélez aplicou uma goleada de 8 a 0 no torneio de 45, motivando uma grande festa no bairro – a diretoria passou a pensar grande. Foram comprados os terrenos vizinhos e começou a sair do papel o projeto do novo Estádio, com a substituição da velha arquibancada por Tribunas de cimento. Foi necessária fechar o Estadio e a mudança por três temporadas ao campo do Ferrocarril Oeste, mas o premio veio quando em 22 de abril de 51 foi reinventado o “Fortín” com ter enormes tribunas de concreto armado, torres em cada uma das pontas e velha bancada de madeira – transformada em tribuna dupla de concreto para a Copa de 78. Na estréia o Vélez venceu o Huracan por 2 a 0, com dois gol do atacante Maspoli.
O estádio, orgulho do bairro de Liniers, seria batizado de “Estádio José Amalfitani” em uma homenagem justa e merecida àquele que foi o melhor dirigente da história do futebol argentino para muitos especialistas. O querido Don Pepe faleceu um maio de 1969, seis mese depois que seu clube ganhou o primeiro titulo nacional de sua história em 68. O time era conduzido pelo cordobes Daniel Willington e pelo tucumano Pepe Solórzano, com um jovem Carlos Bianchi em seu plantel.



Traduzido do Livro - El nacimiento de una pasión - História de los clubes argentinos, de Alejandro Fabbri, CI, 2006 ( ainda inédito no brasil).

2 comentários:

Unknown disse...

Polaco de gala esse post, e o de paranagua relembrou as vezes que estive lah, tanto para acompanhar o furacao, comprar frutos do mar no mercado e visitar uma namorada parnanguara.
Abracos. Franco

Moser disse...

grande franco. saudade de você, meu irmão. A história do velez em muitos momentos se confunde com a nossa. Só o nosso Don pepe não é tão querido, mas já tá baixando a guarda